Advogada Tributarista especialista no mercado financeiro analisa provável cenário econômico no próximo governo e sugere medidas às empresas
Passadas as eleições Lavinia Junqueira, advogada sócia fundadora do Junqueira Ie Advogados, faz uma análise do cenário que se forma e sugere como empresas e seus conselhos precisarão agir nesse contexto. No âmbito internacional pouco muda, com previsão de pequeno crescimento mundial, até com risco de estagnação e inflação alta. Por aqui o cenário político continua conturbado e pouco se sabe sobre a agenda econômica do Brasil 2023 – mas já com uma proposta de emenda constitucional para manter o Auxílio Brasil e um rombo nas contas públicas em cerca de R$ 200 bilhões, e a proposta de isentar do imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil.
“As medidas querem preservar a renda nas faixas econômicas mais baixas, mas se o governo segue gastando mais do que ganha, isso gera ainda mais inflação, que pega o populismo na curva e corrói o poder de compra das famílias, afetando justamente os mais pobres. Parece um ciclo vicioso para o qual existem poucos remédios, todos amargos”, comenta Lavinia.
Tributos, recursos financeiros e consumidor
A redistribuição da carga tributária nas chamadas “reformas tributárias”, que já tinha entre suas propostas a tributação de dividendos, a extinção dos juros sobre capital próprio, a tributação de fundos fechados, a “reforma” na tributação indireta, de PIS/COFINS/IPI, parecem ser soluções para um cenário pouco favorável. “Outro remédio amargo é a manutenção dos juros altos, por mais tempo. Como reagir? As empresas podem rever a estratégia de caixa e financiamento, modelos de negócios, produtos e serviços”, explica a advogada.
“Na tesouraria, empresas podem rever o estoque de lucros e a conveniência de distribuí-los, alterar a forma de financiar suas atividades como capital ou dívida, rever sua projeção de investimentos e caixa”, sugere. No modelo de negócios podem verificar como uma alteração de tributos indiretos afeta a cadeia de fornecimento, estrutura de custos e vendas e se há modelos de negócios mais eficientes, qual o custo e a viabilidade da transição.
Segundo Junqueira, para produtos e serviços, será um desafio proteger a demanda e a margem da onda inflacionária que certamente virá. “É necessário entender o impacto no consumidor e a preferência do consumidor a fundo, mapear o ecossistema no qual a empresa se insere, para, com uma boa dose de inovação e criatividade, maximizar a captura de oportunidades dentro desse ecossistema, diferenciar produtos e serviços ou canais de venda, explorar novas oportunidades de mercado, fazer substituições inteligentes para reduzir custos, dentre outros”, reforça Lavinia. Para isso, ter um planejamento estratégico ordenado e conhecer muito bem a posição da empresa no mercado e as oportunidades é essencial.
O papel dos Conselhos deverá ser o de garantir que a administração da empresa tenha mapeados os riscos e as oportunidades desse cenário e que terá as competências e os incentivos necessários para surfar essa onda. Deve estar junto na escuta ativa de stakeholders e inspirar a administração a olhar mercado e pensar dentro e fora da caixa. A agenda de reuniões deve dedicar tempo adequado a cada um desses temas.