Malka Julieta se une a Nomade Orquestra e Zopelar no novo single “Chão”
Antecedendo seu álbum de estreia, “Chão” é um rap com groove brasileiro e metais de batalha que marca a estreia da artista como diretora de videoclipe
Depois de anunciar o álbum Chão com a faixa “Sururu das Meninas pt2”, parceria com Deize Tigrona, Malka Julieta revela agora o segundo single e faixa-título do projeto. “Chão” chega hoje com participações da renomada Nomade Orquestra — grupo de jazz do ABC Paulista — e do produtor Zopelar, que também assina a co-produção da faixa ao lado da artista. Combinando groove brasileiro, rap e elementos de jazz, a canção antecipa a chegada do disco com uma sonoridade grandiosa, que evoca imagens de resistência e força, com metais que remetem a uma batalha — “uma coisa meio Rock Balboa, só que latino”, como descreve a própria cantora. Ouça a canção aqui e confira o videoclipe, dirigido pela própria Malka, em seu canal de YouTube.
Mais do que uma música, “Chão” é um manifesto sobre territórios conquistados, tanto físicos quanto simbólicos: a música fala das lutas e superações de uma artista trans e PCD no Brasil, abordando temas como política, saúde, autonomia e resistência. “É sobre chegar em lugares que antes eram proibidos”, explica Malka, que também assina a direção de seu primeiro videoclipe, filmado no Paço Municipal de Santo André, no ABC — território onde nasceu sua carreira, ainda na cena punk da adolescência, e onde ela hoje resgata esse espírito em colaboração com Letícia Maria, que edita o videoclipe. O clipe traz referências visuais que vão de “Intergalactic”, dos Beastie Boys, com a estética acelerada, ao passo lento do videoclipe de “I’m With You”, de Avril Lavigne, traduzindo visualmente o hibridismo e a força da faixa.
Ao lado de Zopelar e da Nomade Orquestra, Malka constrói uma introdução poderosa para seu primeiro álbum, que será lançado em maio pelo selo Natura Musical. “Chão” não apenas apresenta a sonoridade do disco, mas sintetiza suas temáticas: um percurso marcado por conquistas, ancestralidade, e pela batalha diária de uma artista independente em diálogo com sua história e sua região.
LETRA
Chão
Hoje é o dia que celebro minha existência
Aproveito e celebro minhas amigas, resistência
O chão é nosso campo de batalha
E minha poesia reta corta igual navalha
Você vem e pergunta: qual é o meu estilo?
Eu só dou risada e te digo
Eu to no norte, nordeste, no jazz e na leste
No samba, no funk, No palco com a bad
Quero champanhe pro alto
Mimosa na laje, tomando de assalto
O teu radio, teu carro, o swing que tu sente
Se apaixona nessa trava de repente ahn
O meu estilo é diferente e eu invado sua mente
E tu achou que não tinha bala no pente
Garota em chamas, cheia de dramas
Contradição que anda, o groove que cê ama
O chão sagrado que hoje a noite eu vou cantar
O chão Proibido que nós vamos conquistar
O chão é o limite e dele não vou passar
O chão é o apoio pra sozinha levantar
Uma vida baseada em um fato
De provar quem não acreditava errado
Patrocinada, quem diria?
Eu que no bingo não fazia nem tinquina
coloco mais um tijolo nesse muro
me proteje da maldade desse mundo
A minha arma a fala, a rima, a palavra
E a música, mantém minh’alma lavada
Quem diria meus dias seriam assim
Rimando pra ganhar a vida até aqui
Não cabia em canção o que tinha no coração
Tinha tanto pra falar tinha tanto pra amar
Só cabe se for rap, no balanço do boombap
Essa vida é um teste, e eu vim quebrar a banca
Branquela enjoada, patricia viciada
É o papo que chega das recalcada
Respeita minha estrada, que já tava na batalha
Lutando contra o normal desde que ce usava fralda
A prova na cara, cicatriz dente quebrado
Batendo em skinhead antes do bozotario
Antifacista de antemão
Pelo amor, pela paz, mas se precisar eu sujo as mãos
Boneca de neca, ultrapassando sem dar seta
Confusão é minha meta, sou futuro versão beta
O chão sagrado que hoje a noite eu vou cantar
O chão Proibido que nós vamos conquistar
O chão é o limite e dele não vou passar
O chão é o apoio pra sozinha levantar
Eu vejo pecadores nas igrejas
Pregando contra a nossa existência
O meu recado pra esse povo é que eu to no jogo
E eu vou rimar denovo, eu vou batalhar
A violência é combustível da nossa beleza
Quem recebe nosso amor, pode crer é realeza
Não quero ninguém me chamando de gênia
Só quero normalizar minha existência
E dançar tranquila, com minha tequila
Contando a pilha de acué com as menina
Eu só quero paz, mas aqui não se faz
Então eu me preparo pra me levantar
E Eu subo no pódio, organizo o meu ódio
Em melodia pra te arrebatar
O chão que sustenta a minha história
É minha família que escolhi que carrego na memória
Já diria Brisa Flow, a treta é sobre território
A cada chão que conquisto eu te chamo
Pra chegar junto no plano
De reapropriar nossa terra
Reforma agrária pro nosso coração
Que só se assentem os bons
Pra quem sabe dividir
Que passe bem longe quem quer tudo pra si
E assim eu chamo pra guerra
Pra retomada do que nosso
A nova era
O nosso chão