Tallis Gomes e o medo dos pequenos grandes homens
Por Lilian Carvalho, coordenadora do FGV-CEMD (Centro de Estudos em Marketing Digital)
Em um mundo que avança a passos largos em direção à igualdade e à inclusão, é profundamente lamentável que ainda nos deparemos com manifestações que tentam diminuir o valor e a contribuição das mulheres no mercado de trabalho. A recente polêmica envolvendo Tallis Gomes, sócio do G4 Educação, é um triste lembrete de quão arraigadas ainda estão as visões antiquadas e misóginas em alguns segmentos da sociedade.
O post de Gomes no Instagram, onde expressa a crença de que mulheres não deveriam ocupar o posto de CEO, pois isso as tornaria “masculinizadas”, é não apenas um desserviço à luta pela igualdade de gênero, mas também uma demonstração de desrespeito às inúmeras mulheres que lideram empresas e organizações com competência, integridade e resultados, em sua maioria, maiores que dos homens.
Segundo um levantamento do Centro de Marketing Digital da FGV, utilizando o software de social listening da Buzzmonitor, a maior parte da repercussão sobre este comentário ocorreu no Instagram, com predominância de comentários negativos. Este dado é um sinal encorajador de que, apesar das vozes contrárias, a sociedade não está disposta a aceitar passivamente tais retrocessos.
A nota de repúdio da ASSESPRO (Associação de startups e empresas do setor de TIC), que rapidamente se tornou o post com maior repercussão sobre o assunto, é um exemplo eloquente de como a comunidade pode e deve se unir contra declarações que buscam minar os esforços pela igualdade de gênero no ambiente corporativo. A entidade se posicionou firmemente ao lado da justiça e da progressividade, valores que devem nortear nosso comportamento enquanto profissionais e seres humanos.
Como mulher, executiva, pesquisadora e empresária, sinto-me compelida a expressar não apenas minha indignação, mas também minha esperança. É verdade que declarações como a de Gomes revelam a persistência de uma mentalidade misógina e elitista em certos círculos. No entanto, a ampla rejeição a essas ideias mostra que estamos, como sociedade, cada vez mais comprometidos com a igualdade de gênero e com a valorização de todas as pessoas, independentemente de seu sexo.
Por mais doloroso que seja testemunhar tais manifestações de preconceito, é também uma oportunidade para reafirmarmos nossos valores e nossa determinação em construir um mundo mais justo e igualitário. A livre expressão, de fato, permite que conheçamos as diversas facetas do pensamento humano, mas também nos dá a chance de responder, de educar e de transformar.
A luta pela igualdade de gênero no ambiente de trabalho e em todas as esferas da vida é contínua e requer a participação ativa de todos nós. Manifestações como a de Tallis Gomes não devem ser vistas apenas como um retrocesso, mas como um chamado à ação. É nosso dever, enquanto membros da sociedade, não apenas repudiar essas ideias, mas também trabalhar incansavelmente para promover a inclusão, a diversidade e o respeito mútuo.
A estrada à frente ainda é longa, mas juntos, com coragem e convicção, podemos e vamos pavimentar o caminho para um futuro onde tais declarações sejam vistas apenas como vestígios de um passado do qual nos orgulhamos de ter evoluído.